NÓS

Chapter 39: Capítulo 38



Chapter 39: Capítulo 38

Acordei lá para as oito horas da manhã, o tempo estava fechado, o céu cinza e ventando muito. Eu

amava quando o tempo estava assim. Decidi não ir mais um dia para o colégio, eu estava sem ânimo

nenhum e ficar perto das meninas sem poder contar nada para elas era ruim demais pra mim.

Eu sabia que isso não justificava minha falta mas era um dos consideráveis motivos também. Primeiro

eu tinha que ajeitar minha vida pra depois pensar em envolver outras pessoas. Me levantei e fui até o

banheiro, fiz minhas necessidades e tomei um banho bem quentinho.

Vesti uma calça moletom preta, um casaco apertadinho bege e por último penteei meu cabelo que

estava igual um ninho, completamente embolado. Quando passei no corredor escutei vozes

masculinas vindo do quarto de Diego e presumi que ele estivesse trabalhando ou algo do tipo, não dei

muita importância já que não era da minha conta.

Fiz café e preparei pães de queijo pra mim, eu amava. Fiz meu desejum assistindo jornal, eu nem

costumava a assistir mas aqui no Diego parecia que só tinha isso, quando não era Jornal era suas

séries malucas. Depois de uns vinte minutos ele apareceu na cozinha com um short de malha e uma

blusa de manga simples.

— Pensei que estava na escola — passou por mim e abriu a geladeira.

— Acordei sem ânimo — ri fraco — Fiz café — falei colocando um pão na boca.

Diego tomou seu café da manhã no quarto já que estava trabalhando e então eu passei a manhã

quase toda no sofá assistindo televisão. Em alguns momentos meu pensamento ia longe e eu

pensava como estava Gabriel, pensava na minha vida três meses atrás e até bateu uma saudades

dos meninos.

Se fosse antes eu daria graças a Deus por ficar tanto tempo sem vê-los.

Peguei minha coberta e fiquei deitada no sofá até umas uma e pouca da tarde, a hora que Diego saiu

da toca e se sentou no sofá também. Ele decidiu a comida que iria fazer para o almoço e pra me

distrair ajudei ele a cortar alguns legumes.

E pra variar foi bem estressante porque Diego ficava me dando dicas de como cortar e eu estava

quase fazendo picadinho dele.

Estar ali me distraiu até o momento em que a cena de ontem com meu pai invadiu meus

pensamentos, meus olhos ficaram marejados na hora e o nó na garganta prevaleceu.

Eu estava prestes a largar tudo ali e me trancar no quarto.

Ajudei Diego no almoço e nos comemos praticamente em silêncio, conversamos pouco nesse meio

tempo que ficamos juntos na cozinha.

Eu não estava a fim de papo.

Após terminar o almoço lavei toda a louça, Diego voltou para seu quarto e eu voltei para o meu.

Escovei meus dentes antes de deitar e fiquei vendo série até umas cinco horas da tarde. Meu telefone

estava cheia de mensagens do povo do colégio e eu não pretendia respondê-las nem tão cedo.

Em meio dos meus pensamentos adormeci chorando, era uma tristeza que não tinha fim.

Mensagens on.

Lya Vaca

O que está acontecendo com você???

Piranha, ei

não foi pra escola hj pq????

Natália

Amiga, tá tudo bem????

Alex

Saudades, loirinha

Caio

Oi, sumida

Tá por onde????

off.

.....

Acordei eram sete da noite com batidas na porta, levantei esfregando os olhos e abri a mesma.

— Foi mal, não sabia que você estava dormindo.

— Tudo bem — bocejei.

— Vou tomar um açaí, quer ir? — colocou as mãos no bolso do casaco. This material belongs to NôvelDrama.Org.

— Três graus lá fora e você com fogo de tomar açaí? — franzi a testa — Eu sabia que você era do

contra mas não dessa forma.

— Quer ir ou não? — bufou.

— Quero.

Ele assentiu e saiu, joguei uma água no rosto pra despertar e fui de encontro a ele que estava na sala

me esperando. Eu não estava com a mínima vontade de sair, de ver gente e muito menos de sair da

cama mas achei o convite válido.

Na minha cabeça podia ser legal descontrair um pouco mas na realidade eu não sabia o que me

aguardava.

O açaí ficava pertinho do prédio de Diego então optamos por ir andando mesmo já que nem chovendo

estava. Decidi parar de ser ranzinza e puxei uns assuntos durante o caminho. Estava tentando ficar

bem no meio do caos.

Chegamos na sorveteria e Diego pediu um de 500ml e eu um de 700ml, era completamente

apaixonada por açai e era visível.

— Você não tem fundo? — Diego me perguntou após se sentar.

— To triste, tá bom? Mereço um de 700ml — rimos.

Não entendia a relação entre eu e Diego, as vezes queríamos nos matar e as vezes nos dávamos

super bem que o ódio entre nós parecia nunca ter existido algum dia.

Era bizarro.

— Por que você ainda não voltou para São Paulo já que seu pai te enche tanto o saco? — perguntei

após dar uma colherada no açaí.

— Eu não sei — encarou a mesa — Minha vida é bem melhor sem meu pai por perto.

— Eu que diga — ri.

Nós conversamos bastante enquanto comíamos nossos açaís e eu descobri bastante coisa sobre

Diego, eu diria, "bastante coisa".

Ele não deixava transparecer muito então talvez eu só saberia o necessário.

Quando nós acabamos ficamos uns dez minutos discutindo no caixa sobre quem iria pagar e depois

de ter praticamente implorado eu ganhei a guerra. Voltamos caminhando lentamente e conversando

sobre assuntos aleatórios porém interessantes.

Quase perto da esquina do Prédio de Diego se ouvia uma voz masculina gritando e a cada passo

ficava mais alto e eu conhecia a voz de algum lugar.

Ela não era estranha pra mim.

Dobramos a esquina e demos de cara com o carro de Gabriel e o mesmo, bêbado, gritando em frente

ao prédio. Na mesma hora meus olhos se encheram de lágrimas, ele era a última pessoa que eu

queria ver naquele momento.

— O que você está fazendo cara? — Diego se aproximou.

— Seu traídor — disse meio embolado e cambaleando pra trás — Traidor! — gritou.

Alex e Victor estavam olhando tudo atordoados, sem saber o que fazer e também tinha algumas

pessoas na rua olhando toda aquela cena e outras nas janelas de seus respectivos apartamentos.

— Loirinha, eu tentei segurar ele mas..— as palavras fugiram da boca dele.

— Você — apontou para mim — Você é uma vergonha, uma vergonha — gritou — Nunca valorizou

nada que papai fez por você, sua ingrata.

— Calma aí, mano — Victor colocou a mão em seu peito mas Gabriel o empurrou.

— Você não sabe o que está falando — falei com lágrimas nos olhos e com a voz falha.

— Você é uma vergonha, eu te odeio — cuspiu as palavras.

Os meninos tentavam conter ele de todas as formas mas era quase impossível, ele está transformado

e querendo me atingir de qualquer forma e havia conseguido.

— Isso dentro de você é uma aberração, Manuela — gritou.

Enxuguei as lágrimas e em passos curtos andei na direção dele, ele não sabia o que estava falando e

tinha acabado de falar a maior besteira do mundo.

— Manuela, melhor não — Diego me segurou — Sé..

— Me solta — disse firme.

Victor segurava Gabriel que me olhava com um ar de desprezo e ódio, engoli o choro e fiquei frente a

frente com ele e o mesmo só fedia a álcool. A raiva prevaleceu naquele momento e eu não pensei

nem duas vezes antes de dar um tapa no rosto de Gabriel, um tapa que fez o virar.

Diego me afastou dele e ele começou a rir enquanto passava a mão no rosto.

— Chama mais uma vez meu filho de aberração e eu vou te dar motivos pra sentir vergonha de mim.


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